sábado, 29 de setembro de 2012

Pierre Bourdieu: A escola enquanto perpetuadora da desigualdade social

Pierre Bourdieu enuncia que a escola não é uma instituição neutra e o desempenho escolar não depende exclusivamente das características individuais do aluno, mas, sobretudo da origem social e da realidade destes. Bourdieu nos fala que os alunos não são sujeitos que competem no sistema educacional de forma igualitária, mas são sim, seres constituídos socialmente e compostos de bagagem social e cultural que é em certa medida mais ou menos adequada à cultura escolar. Assim, sua origem e condição sócio-cultural é fator de sucesso ou de fracasso frente às exigências educacionais. Ao questionar a neutralidade da escola, Bourdieu afirma que os valores e conteúdos cobrados na escola representam os interesses e posturas das classes dominantes, que são dissimuladamente tratados como cultura universal. Assim, a escola legitima os processos de desigualdade social na definição de seu currículo, das metodologias de ensino e maneiras de avaliar, ao passo que relaciona as diferenças acadêmicas e cognitivas com as características e méritos individuais do sujeito. Para Bourdieu os sujeitos são socialmente constituídos, sendo que a ação das estruturas sociais sobre as posturas dos indivíduos dá-se num movimento de dentro para fora, entendendo-se assim, que a estrutura social conduz a formação individual.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma viola-de-amor

Dêem ao homem uma viola-de-amor e façam-no cantar um canto assim... "Sairei de mim mesmo e irei ao encontro das flores humildes dos caminhos e das lentas aves dos crepúsculos, cujo pipilo suspende na paisagem uma lágrima que nunca se derrama. Sairei de mim mesmo em busca de mim mesmo, em busca de minha imagem perdida nos abismos do desespero, minha imagem de cuja face já não me lembro mais... "Sairei de mim mesmo em busca das melodias esquecidas na memória, em busca dos instantes de total abandono e beleza, em busca dos milagres ainda não acontecidos... "Que eu seja novamente aquele que ergue do chão o pássaro ferido e, no calor de sua mão, dá-lhe de morrer em paz; aquele que, em sua eterna peregrinação em busca da vida, ajuda o carnponês a consertar a roda do seu carro... "Que me seja dado, em minhas andanças, restituir a cada ser humano o consolo de chorar dias de lágrimas; e depois levá-lo lá onde existe a luz e chorar eu próprio ante a beleza do seu pranto ao sol... "Possa eu mirar novamente os pélagos e compreendê-los; atravessar os desertos e amá-los. Possa eu deitar-me à noite na areia das praias e manter com as estrelas em delírio o colóquio da eternidade. Possa eu voltar a ser aquele que não teme ficar só consigo mesmo, numa dura solidão sem deliqüescência... "Bem haja o meu irmão no meu caminho, com as suas úlceras à mostra, que a ele eu hei de curar e dar abrigo no meu peito, Bem haja no meu caminho a dor do meu semelhante, que a ela estarei desvelado e atento... "Seja a mulher a mãe, a esposa, a amante, a filha, a bem-amada do meu coração; possa eu amá-la e respeitá-la, dar-lhe filhos e silêncios. Possa eu coroá-la de folhas da primavera em seu nascimento, seu conúbio e sua morte. Tenha eu no meu pensamento a idéia constante de querê-la e lhe prestar serviço... "Que o meu rosto reflita nos espelhos um olhar doce e tranquilo, mesmo no mais fundo sofrimento; e que eu não me esqueça nunca que devo estar constantemente em guarda de mim mesmo, para que sejam humanos e dignos o meu orgulho e a minha humildade, e para eu cresça sempre no sentido de Tempo... "Pois o meu coração está antes de tudo com os que têm menos do que eu, e com os que, tendo mais do que eu, nada têm. Pois o meu coração está com a ovelha e não com o lobo; com o condenado e não com o carrasco… "E que este seja o meu canto e o escutem os surdos de carinho e de piedade; e que ele vibre com um sino nos ouvidos dos falsos apóstolos dos falsos apóstatas; pois eu sou o homem, ser de poesia, portador do segredo e sua incomunicabilidade - e o meu largo canto vibra acima dos ócios e ressentimentos, das intrigas e vinganças, nos espaços infinitos...". Dêem ao homem uma viola-de-amor e façam-no cantar um canto assim, que sua voz está rouca de tanto insulto inútil e seu coração triste, de tanta vã mentira que lhe ensinaram.