terça-feira, 20 de setembro de 2011

Violência e Adolescência: um olhar psicológico

É fato que a violência assume uma questão de grande preocupação nos dias atuais devido ao seu aumento significativo e o seu grau de intensidade. Nesse contexto, a questão demanda análises de forma profunda, considerando as várias dimensões envolvidas na problemática, como os aspectos psíquicos, relacionais, políticos e sociais.
Para Marty (2006), o conceito de violência constitui-se como o exercício do poder sem que se considere a relação com os outros ou algo. Na ocasião, nos interessa refletir acerca da violência na adolescência e questionar a relação existente entre atos violentos e essa faixa etária.
De acordo com Tavares (2011), a violência é construída mediante um processo de subjetivação da criminalidade, entendendo nesse sentido a subjetividade não como a essência desse sujeito, mas como um processo de composição cultural e social.
Esse processo reflete-se em vários aspectos sócio-culturais como as prisões que se configuram em um “sintoma” da criminalidade e não como uma “solução”, e nesse viés, podem ser entendidas como um instrumento de produção dessa subjetividade criminosa. (Young, 2003).
Foucault (1989) analisa a dimensão disciplinar mediante a instituição prisão e suas características cotidianas como as filas, o monitoramento constante, os atos repetitivos, dentre outros. Assim, a prisão, bem como o infrator, representa os resultados do poder disciplinador da sociedade e que, também, podem ser visualizados nas rotinas de trabalho e educacionais.
É importante considerar também a disseminação da idéia de risco enunciada nas políticas públicas amplamente. É difundido nas políticas de assistência social, segurança, saúde e educação, expressões ligadas a “situações de risco”.
O poder disciplinador enunciado por Foucault é verificado quando temos uma sociedade que vivência o “perigo” constantemente, como algo inevitável e incontrolável. Para Router (2007) o medo da criminalidade torna-se um instrumento de aumento da demanda punitiva que se produz com o advento das leis, da mídia e dos impactos subjetivos dessa divulgação.
O resultado dessas ações é a construção de uma sociedade do medo, que é elemento integrante de maioria das nossas atividades cotidianas e, nesse contexto, o medo torna-se um dispositivo importante no jogo de poder da sociedade contemporânea.

A VIOLÊNCIA E O ADOLESCENTE

Frequentemente relaciona-se a adolescência com atos violentos, porém sabemos que a violência não se restringe a essa faixa etária e, conforme discutido já nesse trabalho, é algo que se encontra arraigado na nossa cultura. De acordo com Marty (2006) é necessário entender que possuem dois tipos de violência: a “comum” e a de “expressão patológica”, sendo que esta última não se expressa na adolescência.
A adolescência constitui-se como um processo de “arrombamento” (Freud, 1923) em que esse sujeito vivencia conflitos íntimos muito intensos e de ameaça do eu. Esses intensos conflitos configuram-se como uma violência contra essa criança que se vê agora como um púbere, produzindo dessa forma, uma reação neurótica.
Esse processo de entrada na puberdade provoca reações conflituosas devido às modificações internas e externas que se processam rapidamente. Assim, quando falamos de violência na adolescência, é preciso nos remeter à idéia de que a própria constituição desse sujeito é algo violento. (Marty, 2006).
Nesse cenário, basicamente tudo o que acontece é uma reação violenta e um instrumento de ação dos adolescentes e seus pares que são ameaçados pela violência. Dessa forma, se, essencialmente, a atuação do adolescente é constituída pela violência, é necessário que este tenha a possibilidade de construir atitudes de ligação e continuidade da existência. Essa ligação representa sua trajetória desde a infância até o início da puberdade, que representa o marco da descontinuidade e impermanência.
Mediante a construção da compreensão de violência, e em especial, da sua manifestação na adolescência, o presente trabalho tem como objetivo trazer concepções acerca dessas dimensões e tecer reflexões sobre as medidas de proteção aos adolescentes, de forma que seja mantido sobretudo o respeito e a justiça.
Também serão discutidos os aspectos políticos-sociais das medidas de proteção ao passo que se percebe uma insuficiência das ações articuladas em rede para realmente promover ações efetivas de transformação social.


REFERÊNCIAS:


FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis:Vozes, 1989.
FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau, 1996.
MARTY, François. O dispositivo da criminalidade e suas estratégias. Ágora (Rio de Janeiro) v. IX n. 1 jan/jun 2006 119-131
RAUTER, C. Clínica e estratégias de resistência: perspectivas para o trabalho do psicólogo em prisões. Psicologia e Sociedade, Florianópolis, v. 19, n. 2, p. 42-47,2007.
TAVARES, Gilead Marchezi. Adolescência, Violência e Sociedade.Fractal: Revista de Psicologia, v. 23 – n. 1, p. 123-136, Jan./Abr. 2011
YOUNG, J. A sociedade excludente. Rio de Janeiro: Revan, 2003

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